Do abajur lilás ao band-aid no calcanhar: o bolero de Dalva de Oliveira a Elis Regina

Silvio Augusto Merhy

Os ataques desferidos contra o gênero bolero no final dos anos 1950 no Rio de Janeiro, sob os auspícios da bossa nova, foram desfechados com base em uma argumentação que criticava o gosto musical do público. Em anos anteriores, a argumentação proclamava a necessidade de defesa do nacional popular como forma de resistir à difusão de música estrangeira. Indiferente às duas linhas de argumentação, a apropriação do gênero bolero proliferou, tendo na dança de casais uma das suas formas mais evidentes, e revelou a força da cultura local e nacional, que, apesar de uma oposição por vezes consistente, foi capaz de reelaborá- lo e absorvê-lo. A análise focaliza “Que será”, de Marino Pinto e Mário Rossi, e “Dois pra lá, dois pra cá” de João Bosco e Aldir Blanc, duas variantes autóctones do bolero de estilos e épocas diferentes.

Palavras-chave: bolero; gênero musical; apropriação; espaço social; música dançante; latinidade.


The attacks made on the bolero in Rio de Janeiro at the end of the 1950’s under the auspices of the bossa nova were supported by arguments that criticize the musical taste of the public. Not long before, arguments claimed to defend the popular- national values against the invasion of foreign music. The appropriation of bolero proliferated as a song-and-dance genre despite both lines of reasoning and revealed the strength of the local and the national culture, able to rework it within their musical practices. The analysis focuses on “Que será”, by Marino Pinto and Mário Rossi, and “Dois pra lá, dois pra cá”, by João Bosco and Aldir Blanc; two autochthonous variant forms of the bolero in terms of style and period.

Keywords: bolero; musical genre; appropriation; social space; music-and-dance; latin identity.