Entre o não-mais e o ainda-não: notas sobre a poesia de Ana Martins Marques

Roberto Said

Este artigo toma como objeto de estudo a metapoesia e a poesia amorosa de Ana Martins Marques, a fim de analisar questões concernentes ao sujeito lírico e à sua enunciação, no quadro de condicionamentos estéticos da poesia brasileira contemporânea. Parto da hipótese de que, a despeito da coloquialidade e do prosaísmo constitutivos da poética de Marques, o cotidiano não é o fim último do poema. Investindo em outra via de leitura, atenta à dimensão inter- subjetiva do lirismo, pretendo demonstrar que a investigação mais relevante do trabalho da poeta não é sobre o sublime oculto na rotina ou a matéria adorme- cida na vida comum, mas sobre as relações entre o poeta e a linguagem da poesia e, claro, entre o poema e o leitor. Tendo em vista as diferentes formas de endereça- mento elaboradas em sua obra, a proposta é investigar os procedimentos de ilocução com que um eu em processo de subjetivação pode se colocar, de forma sempre instável, em seu dito sobre si, sobre seu poema e seu leitor, no interior de uma situação discursiva.