Metamorfoses das artes na forma do poema: a música e a pintura na lírica de Murilo Mendes

Wesley Thales de Almeida Rocha

No exame do espólio de Murilo Mendes, ressalta-se seu interesse e proxi- midade com outras artes além da literatura, em especial a música e a pintura. E essas interlocuções fazem-se partícipes da criação literária do autor juizforano, podendo ser notadas flagrantemente nos livros publicados a partir de 1959, cuja matéria primordial é o itinerário cultural por lugares, paisagens e obras artísticas representativas de vários países de eleição do poeta. No entanto, é possível perceber como na fase de lirismo mais exacerbado de Mendes, situada entre Poemas (1930) e Poesia liberdade (1947), esse diálogo com a música e a pintura é também profícuo e até decisivo, permitindo a ele introduzir na forma do poema recursos formais e analogias semânticas próprias a essas outras artes. Repassando algumas composições de diversos livros desse período, pretendo, neste ensaio, analisar como Murilo Mendes valia-se de seus conhecimentos sobre música erudita para compor a pauta dissonante e arrítmica que distinguiu o seu estilo e para dotar de expressividade o conteúdo de seu dizer. Também discutirei como os conhecimentos sobre pintura participavam do complexo imagético, marcado por um jogo de contrastes que lembra a plástica barroca ou por técnicas de corte e colagem que remetem ao cubismo e ao surrealismo.