Consumo, deslumbramento, “bobagens de nosso daydream diário”: o iluminismo na era da luz neon

Sérgio Delgado Moya

Na poesia concreta brasileira, especialmente em Poetamenos de Augusto de Campos, a fascinação serve como mediação do desejo num mundo dominado pela lógica mercantil. A fascinação serve como manipulação, mas serve também como distração e diversão, como deriva e como desvio. Na poesia concreta, a fascinação é o que nos faz desviar a leitura do mais eficiente e utilitário na linguagem: sua pretensão de claridade, de transparência na comunicação. A poesia sempre foi excesso, encanto, exuberância, e os poemas de Poetamenos reivindicam a capacidade da linguagem para condensar sentidos densos, concretos. A cor, a forma visual e a textura cumprem papéis centrais nos modos de fazer sentido ensaiados nessos poemas, que atraem leitores de um jeito que imita mas que não é redutível à logica do consumo capitalista. A poesia e linguagem da cultura de consumo, conjugadas como estão na poesia concreta, diferem na sua substância e nas suas intenções, mas nem sempre na sua aproximação à linguagem como material constitutivo.